Conto 3 da Obra: Engolido Pelo Abismo
Terra Emersa
Estava imerso nas águas escuras, me afundando, olhando para baixo, até que vi onde as águas terminam, e cada vez que eu mergulhava para o fundo, mais próximo do topo eu ficava, e então fui jogado para fora das águas escura, naquele momento poderia ter aberto a boca e devorado todo aquele ar, como num suspiro de vida, se não fosse pelo fato de estar preenchido com aquela água escura.
Saindo das águas, coloquei tudo pra fora, aquela água escura que ficava cada vez mais espessa, gorfei por tanto tempo enquanto me rastejava para longe das águas escuras que por fim, me vi magro e sem forças, em minha boca escorria em meio ao lodo escuro, algo com textura lisa, apalpei e então forcei para arrancá-lo, uma dor insuportável me abateu.
Despertei tempos depois, e toda a trilha de lodo havia se esvaído, mas aquela corda de textura lisa permanecia lá, próximo as águas escuras trilhando o meu percurso até chegar em minha boca, e mesmo com visão embaçada percebi a cor daquela corda, seu formato e textura, aquilo era minhas tripa, e uma dor terrível me nocauteava, sempre que tentava rasgá-las ou retirar mais de mim, por fim decidi então engoli-las.
Agora minha visão havia melhorado, e foi o primeiro momento que não sentia dor desde que mergulhei no abismo, sentei e respirei fundo finalmente, mas algo me formigava os dedos e as pernas, quando olhei, sanguessugas, centenas delas, eram pequenas e longas, levantei como num flash, o formigamento era muito, minhas pernas bambeavam. E no desespero eu retirei todas aquelas criaturas horripilantes, mas elas estavam por toda parte, eram literalmente uma praga.
Logo reparei que estava cercada pelas águas escuras, e mais ao centro daquela pequena ilha forrada de sanguessugas do abismo, tinha uma pilha de corpos, pessoas de diversas raças, culturas e épocas, tão magras que suas costelas entrelaçavam-se, mas eles ainda se mexiam vagarosamente e gemiam com a pouca voz que tinha, tentando inutilmente tirar aquelas pragas que sugavam até os ossos.
“Almas fracassadas permanecem no chão, o restante me acompanhe. Wozodom, O Barqueiro, veio lhes buscar para o castigo eterno.” grita de cima de uma canoa, que flutuava próximo ao local mais alto da ilha, um ser que claramente não era humano.
Corri em direção a ele, pois se eu tivesse que ser punido por algo, certamente não seria por fracasso. Eu estava fraco, descalço e a cada passo parecia uma pancada, meu estômago estava se revirando, e minha barriga mudava o formato enquanto corria, a lama no chão afundavam meus pés e as pragas se aproveitavam para sugar minha pouca força que restava.
Chegando ao centro da ilha, comecei a escalar as pilhas de peles e ossos, que sussurravam pedidos de ajuda e súplicas de perdão, mas para eles não tinham outra chance, já estavam fadados ao fracasso no momento que decidiram subir para cima na bifurcação do vestíbulo do abismo e não conseguiram vencer suas correntezas.
Wozodom, O Barqueiro me guiou então para mais fundo com sua canoa flutuando em meio aquele ambiente úmido.
Percebi então que esta era a terra emersa, tal como seu centro estava localizado a pilha de peles e ossos, que pude chamar de lar dos fracassados, lar daqueles que tentaram subir e não se esforçaram o bastante.
~Autor: Dante Savoia (Autor Ficcional)
~Autor: Wotan Soberano (Autor Real)